A Áustria e o Brasil

As relações bilaterais entre a Áustria e o Brasil são excelentes e sem conflitos. Os primeiros contatos da Áustria com o Brasil, remontam constitucionalmente à portuguesa Casa da Áustria. A Casa da Áustria governou o Brasil na forma de uma união pessoal entre o Reino de Portugal e a Coroa Espanhola no período de 1580 a 1640 pela qual veio toda a Península Ibérica. Na época da Casa da Áustria, surgiram fundações de cidades como a de Belém em 1616.

O Congresso de Viena para a reorganização da Europa teve repercussões, que até hoje caracterizam as relações austríaco-brasileiras: em 1816 Dom João VI tomou posse – ele fugiu com a ajuda britânica das tropas napoleônicas em 1807/08 de Lisboa para o Rio de Janeiro –entrou em negociações com o imperador Francisco I da Áustria sobre o casamento de seu filho e príncipe herdeiro Dom Pedro I com uma arquiduquesa austríaca. A chegada de Maria Leopoldina da Áustria em novembro de 1817 ao Rio de Janeiro e seu casamento com Dom Pedro I marcam o apogeu das relações entre o Brasil e a Áustria.

Conhecida como Dona Leopoldina, a arquiduquesa austríaca é considerada por muitos historiadores como a principal articuladora do processo de Independência do Brasil ocorrido entre 1821 e 1822, notadamente em setembro de 1822. Após a Independência do Brasil, cujos 200 anos comemoramos este ano, ela se tornou a primeira Imperatriz Consorte do Império do Brasil.

Dona Leopoldina – altamente culta e instruída – chegou ao Brasil acompanhada de uma equipe de especialistas em ciências naturais e pintores austríacos que deveriam reunir tudo de cientificamente interessante nas áreas de história natural dos três reinos, animais, plantas e minerais e objetos etnológicos. Ela incentivou a criação da “Coleção Brasileira”, partes da qual serão expostas por ocasião do Bicentenário em junho de 2022 como parte de uma grande exposição brasileira no Museu de História Natural em Viena.

É também graças aos esforços de Dona Leopoldina que a pátria mãe Portugal e o Império da Áustria reconheceram a independência do Brasil em 1825, quando foram estabelecidas relações diplomáticas entre a Áustria e o Brasil. Em 1826, seguiu-se um contrato provisório de comércio e embarque marítimo mútuo. Após o fim da monarquia brasileira em 1888, as estreitas relações continuaram. Descendentes diretos de Pedro II ainda vivem na Áustria até os dias de hoje. Devido ao aumento da emigração no período após o colapso da Monarquia k.u.k., a Primeira República da Áustria abriu uma embaixada no Rio de Janeiro em 1925.

Um marco importante nas relações do pós-guerra foi a defesa do Brasil quanto a restauração de uma Áustria livre e soberana e o fim da ocupação Aliada. Em dezembro de 1952, o Brasil submeteu à Assembleia Geral das Nações Unidas um projeto de resolução para restaurar a soberania plena da República da Áustria, que foi aprovado por 48 votos. Embora a iniciativa não tenha obtido sucesso, ela contribuiu para que o tema do Tratado do Estado Austríaco permanecesse na agenda internacional.

Em 1970 foi licitada a construção da embaixada austríaca em Brasília e em maio de 1974, após a mudança do Rio de Janeiro, o novo prédio representativo foi inaugurado de forma solene.

Nas últimas décadas, as relações bilaterais apresentaram uma intensificação muito positiva. Um sinal disso foi o intercâmbio de visitas de alto escalão, em nível de presidentes respectivamente de governo, assim como de ministros das relações exteriores.

As relações econômicas também se desenvolveram de forma muito dinâmica. Desde 2003, o volume de comércio bilateral mais que triplicou. O Brasil tornou-se o nono maior mercado ultramar para a economia austríaca e o mercado de exportação mais importante na América Latina com cerca de 1.000 empresas austríacas fornecendo para o Brasil. Mais que a metade das exportações austríacas para a América do Sul vão para o Brasil, onde empresas austríacas estão presentes com mais de 200 filiais.

Para o Bicentenário da Independência do Brasil em 2022, o projeto para disseminação da cultura austríaca concentrar-se em simpósios científicos – um deles com o Ministério das Relações Exteriores no Palácio Itamaraty no Rio de Janeiro – com o intuito de dar continuidade à pesquisa sobre a história em comum dos dois países dos últimos 442 anos. Cientistas do Brasil e da Áustria apresentarão os resultados mais recentes de suas pesquisas sobre a dimensão global da independência. Os organizadores estão principalmente preocupados em "desatar o espartilho apertado da historiografia brasileira sobre a independência e o posterior estabelecimento do Estado" e analisar, de uma perspectiva histórica global, as decisões da descolonização iniciada com o Congresso de Viena e a posterior estruturação do Estado de 1815-1822.

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Imigração Austríaca no Brasil

Hoje, cerca de 5.500 austríacos residem no Brasil, uma boa parte deles de famílias que vivem aqui há gerações. Isto se deve em grande parte à imigração austríaca no Brasil que foi o movimento migratório de imigrantes austríacos para diversas partes do Brasil, particularmente nos séculos XIX e XX. Um austro-brasileiro é uma pessoa de nacionalidade brasileira e de ascendência total, parcial ou predominantemente austríaca, ou ainda um imigrante austríaco no Brasil.

Os primeiros austríacos que chegaram ao Brasil na segunda metade do século XVII foram missionários jesuítas. Os primeiros grandes grupos de migrantes do então Império da Áustria chegaram em 1858, um ano depois que o navio de expedição austríaco Novara atracou no Rio de Janeiro e foi recebido pelo Imperador Dom Pedro II. O fluxo constante de emigrantes austríacos para o Brasil continuou até o início da Segunda Guerra Mundial em 1938, com uma interrupção durante a Primeira Guerra Mundial.  No total, mais de 60 mil imigrantes oriundos da Áustria-Hungria imigraram para o Brasil.

Os primeiros 250 tiroleses vieram ao Brasil como parte de um recrutamento planejado de milhares de imigrantes de língua alemã. Eles se estabeleceram em Minas Gerais como agricultores, artesãos e comerciantes porque a empresa de construção de estradas União e Indústria estava construindo uma estrada de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro. Outros migrantes austríacos seguiram nas próximas décadas, boa parte deles do Tirol, e fundaram colônias como, entre outras, Dorf Tirol e Santa Leopoldina (1859) no Espírito Santo, Colônia Imperial de Santa Maria do Novo Tirol (1878) no estado de Paraná e Treze Tílias (1933) no estado de Santa Catarina, provavelmente a mais conhecida hoje.

Treze Tílias (alemão: Dreizehnlinden) é um município do estado brasileiro de Santa Catarina, fundado em 1933. Ela cobre uma área de cerca de 185 km² na parte oeste da região montanhosa brasileira. O clima é temperado com quatro estações e possível nevasca no inverno. Treze Tílias ganhou uma notoriedade especial porque teve origem em um assentamento de emigrantes austríacos, que preservaram em grande parte sua língua e suas tradições, como canções e danças folclóricas, até os dias de hoje. Informações sobre esse lugar extraordinário podem ser encontradas aqui: www.trezetilias.com.br

Provavelmente o emigrante austríaco mais famoso é o escritor Stefan Zweig. Fugindo do Nazismo, ele veio ao Brasil em 1949, onde se estabeleceu em Petrópolis e escreveu seu famoso livro “Brasil: Um País do Futuro” e tirou a própria vida em 1942. Hoje ele é considerado um símbolo para os intelectuais que encontraram no Brasil refúgio da tirania do século XX.